quarta-feira, novembro 30, 2011

Ornamentos da saudade I


Continuando a olhar para o Cemitério da Soledade, localizado no centro da cidade de Belém, esta postagem, e a seguinte, têm por objetivo verificar alguns dos muitos ornamentos existente nessa necrópole e descrevê-los.
Venha comigo!
Vale a pena.

O ACROTÉRIO, do grego, elemento mais elevado, é o recurso que serve como arremate ornamental para o ponto mais alto de um frontão. O acrotério de canto, ou angular, é usualmente encontrado nas extremidades inferiores dos frontões triangulares. Utilizados, primeiramente, na arquitetura da Antiguidade Clássica, foi utilizado também como elemento ornamental de urnas funerárias e sarcófagos.
A forma mais comum de acrotério é o vegetalista, mas é possível encontrar vasos, bolas, globos, prismas facetados, pinhas, animais fantásticos e até estatuetas humanas. Os exemplos encontrados no Soledade apresentam, predominantemente, elementos vegetalistas como os mostrados a seguir.

A AMPULHETA simboliza a passagem do tempo de vida. Às vezes é associada a um par de asas, símbolo de que a existência humana é fugaz, e que irá se esgotar. Nos exemplos a seguir, ampulheta e par de asas compõem com duas armas cruzadas, o conjunto.

A representação das ÁRVORES é larga na simbologia cemiterial. Conforme a situação em que é vista, trazem significados específicos da cultura e crença do falecido. Uma árvore com galhos cortados, como a da imagem, representa a morte precoce; uma árvore brotando, a vida eterna.


A FOLHA MONTANTE (ou flor montante) também denominada cogulho indica um pequeno elemento ornamental esculpido de pedra representando folhas estilizadas, de uso comum na arquitetura do estilo gótico. Estes elementos encurvados e retorcidos brotam em repetição, e são colocados à mesma distância um do outro, principalmente para rematar arestas de pináculos e arcos. Nos exemplos a seguir, folhas montante estão aplicadas nos acabamentos das coberturas de mausoléus e, no primeiro exemplo, também no pináculo lateral.


Frutos, folhas e flores podem ser agrupados sob as formas de GUIRLANDAS e de FESTÕES. As primeiras, de forma circular, podem ser arrematadas com fitas, enroladas ao longo do círculo ou compondo laços. Os festões podem ser compostos pendentes nas extremidades, sob a forma de curvas, ou em apenas uma das extremidades. São comuns ao estilo Românico e têm sua origem ligada aos festões de frutos verdadeiros utilizados como decoração sobre os frisos de templos. Foi revivido pela Renascença em formas mais ou menos modificadas nos edifícios e túmulos religiosos e esteve presente em estilos posteriores. A forma do ornato sugere movimento e ritmo e o conjunto de flores e frutas pode ser substituído por tecidos ou drapeados. Nos exemplos a seguir, é possível ver na imagem superior central, um festão pendente e arrematado com uma espécie de botão e laço de fita, as demais, são guirlandas. Chama a atenção, a guirlanda, inferior à esquerda, formada somente por folhagens, em cuja composição, as folhas da esquerda são de acanto e as da direita, de louro.

A FIGURA HUMANA foi, e é, objeto favorito de representação na arte. Poderes sobrenaturais, deuses, seres venerados, são representados sob a forma humana. O corpo humano é, muitas vezes, representado sem qualquer significado e só decorativamente por conta da beleza da forma.
Figuras humanas são comuns à arte cemiterial, sejam elas sob a forma de santos ou de anjos, sendo os últimos com grandes variações: de corpo inteiro ou apenas cabeças aladas.
Nos exemplos a seguir, é possível ver, respectivamente: à esquerda uma imagem de Nossa Senhora da Conceição e à direita uma figura feminina com uma criança no colo.

Os três exemplares abaixo mostram ANJOS com grandes asas abertas. O central, diferente dos demais, está sentado e tem a seus pés, um crânio.

CABEÇAS DE ANJOS aladas são comuns à arte cemiterial e, neste campo santo não é diferente. Na imagem a seguir, destaque-se àquela mais à esquerda, cabeça de anjo alada e com elementos vegetalistas na parte superior do conjunto. A imagem mais à direita é uma cabeça de Cristo aplicada no friso de um mausoléu.

O LEÃO indica proteção ao túmulo em que estiver aplicado. Remete também à coragem e determinação das almas dos entes cujos corpos ali repousam. O exemplo mostra quatro leões deitados e servindo de base ao mausoléu.

A máscara, na origem do termo, é um rosto oco e artificial destinado a esconder a expressão humana, a fim de tornar quem a usa, irreconhecível, ou para caracterizá-lo de alguma forma especial. A utilização das máscaras provém da Grécia, dos jogos da colheita e desses foram transferidas para o teatro. As máscaras são, geralmente, fiéis à natureza ou idealizam-na; já os MASCARÕES são faces sorridentes, deformadas, distorcidas por acessórios ou terminando em folhagens. O exemplo, a seguir, mostra um mascarão sobre a porta de um mausoléu. Olhos, nariz e boca e folhagens compõem o ornato, encimado por um elemento vegetalista.

Os OBELISCOS são pilares altos, monolíticos em forma de paralelepípedo, estreitando-se no alto e terminando em pirâmide. É um símbolo religioso egípcio que foi usado como ornamento arquitetônico no Renascimento em dimensões reduzidas, frequentemente, junto com as volutas, sobre os frontões dos edifícios. São utilizados também isolados, como os três exemplos a seguir, marcando um túmulo. Têm, em geral, em suas faces, ornatos. Nos exemplos, há elementos vegetalistas, uma cruz e um manto.

Os CAPITÉIS, elementos que coroam os pilares, aqui estão presentes em grande número e nas mais variadas forma, desde citações aos clássicos dórico, jônico e coríntio, como variações do tema, sejam eles com elementos geométricos, vegetalistas, faunísticos.



Todas as imagens: Domingos Oliveira, 2011
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Fontes:

OLIVEIRA, Domingos Sávio de Castro. O vocabulário ornamental de Antônio José Landi: um álbum de desenhos para o Grão Pará. 2011. 227 p. Dissertação (Mestrado em Artes). Instituto de Ciências da Arte da Universidade Federal do Pará, Belém, 2011.





6 comentários:

  1. Parabéns pela riqueza de detalhes - uma análise minuciosa.

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  2. Paula Andréa Caluff Rodrigues30 de novembro de 2011 às 15:11

    Domingos, sou fã de seus trabalhos!

    Vamos maracar o chá! :D

    Um abraço,

    Paula

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  3. Paula,
    Obrigado!
    Espero esteja à altura do Soledade.
    Então fico aguardando o chá cemiterial.
    rsrs...
    Abraço,
    Domingos

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  4. Parabéns pelo blog e pelo trabalho de pesquisa e divulgação do patrimônio Arquitetônico e Turístico de nossa sofrida Sta Maria de Belém do Grão Pará.
    Abrç,
    JM.

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  5. JM,
    Obrigado pela visita e incentivo.
    Volte sempre!
    Abç
    Domingos

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