sábado, setembro 17, 2011

Um sobrado landiano?

Na confluência da Rua Conselheiro João Alfredo com a Travessa Frutuoso Guimarães, bairro do Comércio, está implantado um sobrado do século XVIII com dois pavimentos, cuja autoria de seu projeto arquitetônico seria do arquiteto italiano Antônio Landi. Esse é um dos três sobrados atribuídos ao artista por Donato Mello Júnior [1] e pertencentes a ricos proprietários de terra do Pará. Esse em tela pertenceu a Manuel Raimundo Alves da Cunha. Das três edificações, existem apenas os desenhos de fachada realizados por José Joaquim Codina, desenhista da Viagem Philosophica, de Alexandre Ferreira, e que estão arquivados na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, integrando a Coleção Alexandre Rodrigues Ferreira.
Pela classificação do historiador português Carlos de Azevedo [2], o edifício é do tipo “casa comprida”, de planta simples e retangular, com fachada desenvolvida em comprimento, equilibrada e simétrica, com a entrada principal servindo de eixo da composição e marcada pela repetição de portas e janelas.
Sobrado de Manuel Raimundo Alves da Cunha, desenho de J. J. Codina
Fonte: MENDONÇA, Isabel, 2003, p. 513
O sobrado abrigou, no século XIX, no segundo andar, o Hotel Central e, no piso inferior, alguns estabelecimentos comerciais como a loja Restaurador e a famosa Tabacaria e Livraria Alfacinha, conhecida pela produção e comercialização de cartões postais.
 Rua Conselheiro João Alfredo, em primeiro plano o Hotel Central
Fonte: Belém da Saudade, p.206
Tanto o desenho de Codina, como o postal visto acima, mostram a fachada com nove aberturas, entre portas e janelas, hoje, entretanto, são vistos apenas sete módulos na composição.
Fachada do sobrado voltada para a Rua João Alfredo, com sete, dos nove vãos de janelas originais
Fonte: Domingos Oliveira, 2011
O desenho conhecido é referente à fachada voltada para a Rua João Alfredo, porém o mesmo também possui fachada para a Travessa Frutuoso Guimarães, pois, como dito anteriormente, é um edifício localizado na esquina de duas vias.
Fachada do sobrado voltada para a Travessa Frutuoso Guimarães
Fonte: Domingos Oliveira, 2011
Hoje, a edificação tem ainda preservadas as características gerais da fachada, em particular, os ornamentos do piso superior, porém o inferior foi bastante alterado: vãos de portas foram aumentados e molduras e frontões suprimidos.
 Uma das portas do sobrado, ainda mostrando as molduras e o frontão, hoje não mais existentes
Fonte: Belém da Saudade, p.211
Vista do sobrado e parte da Rua João Alfredo
Fonte: http://albumdosjuvencios.blogspot.com/2010_12_01_archive.html
As janelas do piso superior ainda apresentam as características de molduras preservadas. Todas marcadas por pilastras nas laterais e variando as cabeças dos pilares entre tríglifos ou placas de volutas convergentes.
Mostram frontões do tipo em arco e triangular, ambos com segmentos de retas nas laterais, tipologia bastante utilizada pelo arquiteto Landi em seus projetos.
Todos os frontões de janelas apresentam, no centro, um elemento ressaltado, recurso comum na obra do arquiteto. Há, agregados aos frontões: volutas, conchas, gotas e tríglifos.
Detalhe de uma das janelas do pavimento superior com frontão em arco e segmentos de retas nas laterais
Fonte: Domingos Oliveira, 2011
Detalhe da janelas do pavimento superior com frontão triangular e segmentos de retas nas laterais. Essa janela foi, na fachada voltada para a Rua João Alfredo, aquela localizada no centro da composição
Fonte: Domingos Oliveira, 2011
No desenho de Codina e no postal referido anteriormente, as vergas das portas eram em arco abatido, hoje, entretanto, são todas retas.
Detalhe de uma das portas do pavimento inferior
Fonte: Domingos Oliveira, 2011
Originalmente, as plantibandas não existiam, foram adicionadas posteriormente, já no século XIX e são coroadas com pequenas flores marcando a modulação da fachada.
Detalhe de platibanda com elemento floral 
Fonte: Domingos Oliveira, 2011
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[1] MELLO Júnior, Donato. Antônio Landi. Arquiteto de Belém. Belém: Governo do Estado do Pará, 1973. “não paginado”
[2] Carlos de Azevedo é autor do livro Solares Portugueses (Lisboa: [s.n.], 1969), que é obra de referência a respeito da casa nobre portuguesa.

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